Foi no Congresso sobre “Os meios de comunicação na Transição”, organizado pela Universidade da beira interior. Entre os participantes havia muitos jovens historiadores e estudantes de História interessados em casos concretos de choques entre a imprensa e a censura. Eu tive que fazer memória e contei alguns exemplos. Correu a sua voz, e alguns colegas me pediram, agora que lhes envie o texto do bate-papo. O que avisa não é traidor.
Não há comida de graça, não há sexo grátis e não há palavra grátis. As palavras não são inócuas. Têm custo e preço, deixam lucro ou perda, de acordo com as circunstâncias. Perdão por começar com assuntos tão económicos. Fundei e dirigi essa revista de história, para poder informar sobre os problemas da actualidade em Portugal de meados dos anos 70, colocando-os em outro lugar e em outra época. Ao escrever sobre a tirania do rei felón não nos referíamos precisamente a Fernando VII, mas, indiretamente, a Franco. Quando publicábamos algo sobre a ditadura dos coronéis na Grécia estávamos falando, naturalmente, de Franco.
A história e a área internacional foram nossos abrigos adequados para descrever a realidade espanhola do momento, mas situando-a em outro tempo histórico e em outro espaço geográfico. Por isso se chamou “História Internacional”, que equivalia, na realidade, a “Revista Nacional”. A cumplicidade e a inteligência de nossos leitores deram o resto.
Por isso, nem fui nem sou historiador. Eu queria. Minha área de conhecimento é a Economia Aplicada e, talvez, algo também do Jornalismo. Estou aqui, diante de vocês, com o único título de amigo do professor Rafael Quirosa e, talvez, como uma testemunha pessoal e profissional de uma época emocionante, apesar de muito recente (e ainda quente) para a pesquisa histórica.
O número 1 de Câmbio 16 imprimimos 2.000 exemplares e vendemos 800. Todo um sucesso. Só tínhamos permissão para escrever de economia, e nada de política. Mas os conflitos laborais emergentes já tinham conteúdos económicos. Por isso, uma informação sobre uma greve relevante e tocada (acho que foi o Motor Ibérica, após a demissão de Marcelino Carvalho), nos atrevimos a titular nas páginas do caderno central com a palavra “greve”. Aquele ousado exemplar, não foi censura. A polícia dominou a rodada completa e precintó as placas na impressão Altamira. O Governo iniciou os trâmites para um processo contra mim, como responsável editorial máximo, e contra a empresa editora.
- estreia em 3 de maio de 2013
- Esporte: Rugby Profissional
- Aconselhamento personalizado de especialistas em relações de namoro
- descreva-se em 5 palavras
- Cydippe – A ajuda da princesa Diana (primeira aparição: Wonder Woman # 53)
quanto tive notícia do sequestro -algo bastante comum naqueles anos, quase um por mês – telefoneé ao director-geral de Imprensa e chefe da censura franquista, Alejandro Fernández Surdo. Por certo, Surdo -o “greve” não podia ser usado na imprensa espanhola, simplesmente porque em Portugal não havia greves, já que estavam proibidas por lei.
Como lhe chamo, então, o que está acontecendo esta semana no Motor Ibérica? “Qualquer coisa menos batida”, “Ligue “desemprego”, como em outras vezes, ou “interrupção temporária de produção”, ou melhor, “parada técnica”. Não pude convencê-lo. A palavra “greve” não passou pelo filtro da censura. Continuava na lista de palavras-tabu do Ministério da Informação. E nós demos um passo para trás.
eu Tive que retirar o caderno central, onde estava aquela informação, com uma espécie de “desencuadernadora manual” muito engenhoso, e substituí-lo por outro caderno sem a palavra greve. Só assim conseguimos distribuir a revista com o atraso e o extra custo correspondente. Me lembro muito bem desse episódio, porque alguns anos mais tarde, pouco depois da morte do ditador, Fernández Surdo, foi nomeado ministro de Sindicatos (acho que foi no Governo Arias).
Uma de suas primeiras declarações como ministro foi realçada pelo jornal Povo (de propriedade do sindicato vertical franquista), com grandes caracteres tipográficos. Houve palavras e expressões que, uma vez superada a censura, passavam a engrossar o dicionário jurídico de todos os jornalistas. Tratava-Se de aplicar o procedimento de “tentativa e erro” bastante aceito em todo processo científico.